Olga Porto
 
 
 
 
Se quisermos saber como vão as coisas, como vai a vida, como vão os sentimentos, não precisamos ler muito nem procurar em folhetins e revistas especializadas. 
Eu não preciso. Basta-me percorrer os "Classificados"  de qualquer jornal e já tenho uma noção aproximada da situação. 
Vende-se de tudo : o que já não nos interessa e o que poderá ser a "salvação da pátria". Afinal, dinheiro é dinheiro, e tudo tem realmente um preço. 
Mas, às vezes, o preço é tão alto que bem melhor seria dar que vender. 
Há várias semanas chamou-me a atenção o anúncio: " VENDE-SE UM VESTIDO DE NOIVA EM ÓTIMO ESTADO DE CONSERVAÇÃO". 
Doeu-me o coração ao ler esta curta propaganda de um vestido que representou num determinado momento um sonho, talvez o único, quiçá o último... 
Embaçou-me a vista, e vi nas brumas do passado um outro vestido perolado pelo tempo, guardado com carinho em baú de formosa sinhazinha. 
Suave perfume, flores esmaecidas, laços descorados, velhas cartas de amor... 
E pelo tempo afora, carinhosamente, vestiu de ilusões a filha, a neta e a bisneta. 
Mas, agora, como deixar no baú um vestido, se ele pode representar a realização de um outro sonho, talvez tão ou mais importante? 
Ou então, quem sabe está à venda a ilusão já morta, e que só é presença incômoda neste vestido em "ótimo estado de conservação", usado uma só vez? 
Depois dizem que eu vivo do passado. Pudera, lá ao menos existem os sonhos. Quem sabe no futuro eu me desse bem, onde existiria a realidade. 
O que não dá para aceitar é este pobre mundo onde o sonho dura um segundo, e vendem-se ilusões...