Chovia... chovia...
Naquela tarde, como chovia! Me lembro de que a chuva caía lá fora sem parar, e seu surdo rumor até parecia um sussurro de quem chora ou uma cantiga de embalar... Me lembro que tu chegaste inquieta, ansiosa, mas logo te aconchegaste em meus braços, quietinha... (...enrodilhada como uma gatinha...) E eu quase não sabia o que fazer: se de encontro ao meu peito te deixava adormecer... se te mantinha acordada, para seres minha... Me lembro que chovia... chovia sem parar... E que a chuva caía a turvar as vidraças anoitecendo o quarto em seus tons baços... Me lembro de que te sentia aconchegada em meus braços... Me lembro que chovia... E de que era bom porque chovia, e porque estavas ali, e porque eu te queria... Sim, me lembro que tudo era bom... E que a chuva caía, caía, monótona, sem parar, naquele mesmo tom... Naquela tarde, amor, como chovia! Agora, quando longe de ti, nem sou mais eu em minha melancolia, não posso mais ouvir a chuva cair que não fique a lembrar tudo o que aconteceu naquele dia... Naquele dia... enquanto chovia... |